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Colunas
24/10/2024 - 14h24
15-10 "AO MESTRE COM CARINHO"
Confira a coluna do Emerson Miranda na última edição da Gazeta: 4.264

Estou aqui, diante da página em branco, e cada palavra que nasce neste instante parece ser eco de um passado longínquo, onde o som da voz dos meus professores ainda ressoa. Enquanto escrevo, percebo que em cada frase há a marca indelével daqueles que um dia dedicaram suas vidas para que eu pudesse, enfim, formar os pensamentos que hoje tento expressar. Esta crônica não é apenas uma homenagem; é um tributo vivo, uma carta de gratidão aos mestres que moldaram a alma que hoje escreve estas linhas.

Em um mundo onde tudo parece fluir com pressa, há uma força silenciosa, quase invisível, que nos conduz ao conhecimento. E essa força são vocês, meus professores. São os jardineiros da mente, os tecelões da sabedoria, que, com mãos pacientes, moldam o barro bruto de nossa ignorância até que ele se transforme em algo belo, digno e útil. Ao pensar em vocês, lembro-me das palavras de Cora Coralina: "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." Cada ensinamento que recebi foi uma pedra no alicerce da minha compreensão, cada lição uma pincelada na tela da minha existência.

Hoje, ao refletir sobre tudo o que aprendi, percebo que não foram apenas as fórmulas matemáticas, as datas históricas ou as regras gramaticais que me formaram. Foi a paixão nos olhos de quem ensinava, o gesto suave que corrigia sem ferir, a palavra que encorajava o crescimento sem pressa. Vocês foram muito mais que transmissores de conhecimento; foram guias, faróis em uma noite que eu mal sabia que navegava.

Aliás, falando em palavras, não posso deixar de brincar um pouco com elas. Foi com vocês que aprendi que o paradoxo pode ser uma revelação de profundidade: “quanto mais aprendo, mais percebo o quanto ignoro.” E a metáfora? Ah, essa foi a chave para transformar a realidade em poesia, quando pude ver que as “flores do saber” cresciam no jardim da minha alma. Não é exagero dizer que o uso da hipérbole me salvou em muitas redações, porque exagerar às vezes é só uma maneira mais dramática de mostrar o que se sente. Vocês me ensinaram, também, que a ironia é uma amiga sutil, escondida nas entrelinhas. E como esquecer da prosopopeia, que me fez acreditar que os livros podiam sussurrar segredos quando tudo estava em silêncio?

Em meio a essas lembranças, perco-me em uma reflexão mais abstrata: o que seria de nós, sem aqueles que dedicam sua vida a ensinar? Somos, todos, continuação de uma linhagem infinita de aprendizes, e o professor é aquele que, ao ensinar, transcende a própria finitude. "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo", disse Nelson Mandela. Vocês, professores, são aqueles que empunham essa arma de forma pacífica, iluminando o caminho para que outros sigam adiante.

A cada parágrafo, posso quase ouvir as antíteses que desenhavam os contrastes da vida em minhas aulas de literatura: luz e sombra, amor e medo, ignorância e sabedoria. E como não se lembrar da aliteração, essa melodia sutil que faz com que os sons das palavras dancem pela página? Com vocês, percebi que a língua portuguesa é muito mais do que regras rígidas: ela é um jogo, um quebra-cabeça onde as palavras têm a mágica de se transformarem em vida.

E agora, sentado aqui, escrevendo com a gratidão correndo nas veias, percebo que a minha vida, os meus textos, minhas canções, meus pensamentos, tudo é reflexo do que um dia vocês plantaram em mim. Por trás de cada palavra escrita, existe o toque gentil de um professor que, com cuidado, lapidou minhas ideias.

Agradeço a cada um de vocês, que me ensinaram que o conhecimento não é um fim, mas um caminho. Um caminho que continuo a trilhar, não apenas como aluno, mas como eterno aprendiz. E a vocês, que hoje seguem firmes em sua missão, mesmo diante de tantas dificuldades, dedico minhas mais profundas reverências. Que o brilho nos olhos de quem aprende seja sempre o maior reconhecimento de sua jornada.

Por fim, deixo aqui, como um eco de gratidão, as palavras de Rubem Alves, que dizia que "ensinar é um exercício de imortalidade". Cada professor que cruzou minha vida vive em mim, em cada palavra que escrevo, em cada ideia que compartilho. E a todos vocês, deixo o meu mais sincero agradecimento, hoje e sempre.

Enquanto termino esta homenagem, sinto que não são apenas minhas mãos que guiam estas palavras, mas as mãos de todos os mestres que um dia acreditaram que eu poderia chegar até aqui.

Por isso, queridos mestres, ofereço-lhes, com o mais profundo respeito, admiração e carinho, um poema nascido das figuras da nossa língua portuguesa, que eu tanto amo. Que cada metáfora seja uma flor para enfeitar seus dias, cada aliteração um sussurro de gratidão, e cada hipérbole, um eco da grandeza do seu trabalho. Que essas palavras carreguem em si o reflexo da imensa importância que vocês têm em cada vida que tocam:

 

Nas linhas da vida, a palavra é semente,
Floresce em sentidos, vasto é o jardim.
Figuras são dançarinas, suavemente,
Tecendo universos no falar sem fim.
 
Em aliterações, o som ecoa firme,
"O vento vagava, varria o cerrado,"
No compasso que o ouvido define,
Como um canto suave, doce e delicado.
 
A assonância entoa, nos ares, um canto,
"Tudo escurece, e o tempo perece."
A língua, em seu jogo, desliza, encanta,
No ritmo preciso, onde a ideia se tece.
 
Metáforas surgem, num voo sagrado,
"O coração é um pássaro em plena ascensão."
Em suas asas, o amor é levado,
Rumo ao céu de sua própria canção.
 
Vem a metonímia, disfarce discreto,
"O pincel do pintor desenha o mundo."
Traz a mão por detrás do gesto completo,
Onde o símbolo revela o que é profundo.
 
Na sinestesia, sentidos se entrelaçam,
"Doce é o perfume da noite estrelada,"
O som, o gosto, as cores se abraçam,
Numa dança suave, encantada.
 
O hipérbato inverte a ordem natural,
"De teus olhos, as lágrimas caíram sem par,"
O tempo se curva ao enredo vital,
Onde o verbo reluz no seu lugar.
 
A ironia brinca, num riso encoberto,
"Que sorte a minha, no meio da chuva!"
No seu jogo sutil, o oposto é certo,
E a verdade, em silêncio, se insinua.
 
O paradoxo, mistério absoluto,
"Quanto mais se ama, mais se esquece."
O amor, que é luz e labirinto astuto,
Num só verso o enigma acontece.
 
Eufemismos sopram, gentil o falar,
"Ele partiu, findou-se sua jornada,"
Suavizando a dor, que tenta ocultar,
A saudade, que a ausência deixa marcada.
 
Pleonasmo insiste, com força e fervor,
"Vivi a vida intensamente, sem cessar,"
Reforça o eco de todo o ardor,
Nas palavras que tentam tanto explicar.
 
A prosopopeia, viva personificação,
"O mar chorava sua dor infinita,"
O ser inanimado, com alma em ação,
Ganha vida nas palavras benditas.
 
Na antítese, o contraste é um fio delicado,
"Luz e sombra, num eterno caminhar,"
São opostos que dançam, lado a lado,
Na dualidade que se faz pulsar.
 
Com zeugma, a palavra é cortada e refeita,
"Ele canta o amor, ela, a saudade,"
A frase sugere, a ausência aceita,
O não dito carrega a mesma verdade.
 
A gradação, em ritmo ascendente,
"Eu corri, tropecei, caí, levantei,"
Escalando os degraus da alma ardente,
Que nos altos e baixos sempre ancorei.
 
Anáfora insiste, repete em beleza,
"O tempo passa, o tempo ensina, o tempo cura,”
Nas palavras que voltam, sem aspereza,
A mensagem ressoa, clara e pura.
 
E na linguagem, tudo se encontra,
Figuras que pintam o verbo em cor,
Cada palavra, como quem encanta,
Desvela os segredos do sentir e do amor.
 
A língua é um mar de infinita criação,
Onde cada verso é um porto, uma
navegação.
E quem conhece esse jogo sagrado,
É mestre da fala, do canto entoado.



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