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Colunas
13/02/2025 - 10h03
Quando me perguntaram se sou religioso
Confira a coluna do Emerson Miranda na última edição da Gazeta: 4.278

Quando me perguntaram se sou religioso, hesitei por um instante. Não porque me faltasse resposta, mas porque a palavra, tão curta e definitiva, parece incapaz de abarcar a vastidão do que sinto. O que significa ser religioso? Recitar orações? Frequentar templos? Ou seria, talvez, o profundo e silencioso compromisso de manter a alma ancorada naquilo que não se vê, mas se sente?

Há um mar dentro de cada um de nós. Nem sempre manso, nem sempre revolto. As ondas que nos habitam não são inimigas, mas mensageiras de algo mais profundo. O medo, esse velho conhecido, por vezes nos paralisa, como se fôssemos náufragos à mercê da tempestade. Mas e se o mar não fosse castigo, e sim convite? E se as ondas não nos quisessem tragar, mas ensinar?

Jesus caminhou sobre as águas. Não porque o mar lhe fosse estranho, mas porque sua confiança estava além das marés. Ele não desafiou as ondas; Ele descansou na certeza de que nada, nem o vento furioso, nem o chão ausente sob os pés, poderia separá-Lo do Amor que O sustentava. "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo" (João 16:33). Não há maior lição sobre a fé do que essa: não se trata de uma ausência de dúvidas, mas da escolha de não sucumbir a elas.

Por tanto tempo, tentamos firmar os pés na terra, quando, na verdade, o segredo é aprender a flutuar. “A fé começa onde termina o orgulho”, escreveu C.S. Lewis. Não se trata de saber todas as respostas, mas de aceitar que nem sempre elas nos serão dadas. A vida, em sua essência, não é um solo firme onde pisamos com segurança, mas um oceano vasto e imprevisível, onde a confiança deve ser a nossa bússola.

Pedro andou sobre as águas, e afundou. Não porque lhe faltassem forças, mas porque olhou para o caos ao redor e esqueceu de quem o chamava. Quantas vezes também nós trememos diante das tormentas da alma, esquecendo-nos de que a mesma voz ainda ecoa: “Homem de pouca fé, por que duvidas?” (Mateus 14:31). O medo nos convence de que estamos sós, mas a fé nos lembra de que nunca estivemos.

Ser religioso, então, não é uma questão de pertencimento a um rito, mas de pertencimento a um mistério maior. É confiar que há algo invisível sustentando cada instante, cada respiração, cada silêncio. É, como dizia Agostinho, “crer para compreender, e compreender para crer.”

Nietzsche disse que a fé é “não querer saber o que é verdadeiro”. Discordo. A fé é aceitar que nem tudo o que é verdadeiro pode ser visto ou provado. É estender a mão ao desconhecido sem exigir garantias. É, como Pascal nos ensinou, uma aposta: e que grande vitória há em apostar naquilo que, se verdadeiro for, nos dá tudo!

A travessia da vida não exige pés firmes, mas um coração leve. Nem sempre caminharemos sem temor, nem sempre nossas certezas estarão intactas, mas a promessa é esta: jamais estaremos sós. “Pois já não confiamos apenas em nós mesmos, mas Naquele que habita em nós.”

Então, sou religioso? Se ser religioso significa carregar no peito a certeza de que, por maior que seja a tempestade, não há mar que possa afogar um coração sustentado pelo Amor – então, sim, sou.




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