O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, tem raízes profundas. Remonta a 1886, em Chicago, quando milhares de operários se ergueram numa greve histórica por jornadas de oito horas, em um tempo em que a exaustão era a única companheira fiel dos homens e mulheres das fábricas. Sangue e coragem regaram aquelas ruas; lágrimas e sonhos lavaram aquelas almas. E foi desse solo, irrigado de esperança e dor, que germinou o direito moderno ao descanso, à dignidade e à justa medida.
"O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade", escreveu Voltaire, em uma observação que atravessa os séculos para tocar nosso espírito cansado e valente. Trabalhar não é apenas sobreviver: é criar, pertencer, construir uma narrativa pessoal dentro da vasta história da humanidade.
Quantas vezes esquecemos? Quantas vezes, entre pilhas de papéis, entre turnos prolongados, entre martelos e teclados, esquecemos que cada gesto, ainda que repetitivo ou modesto, é uma peça indispensável da engrenagem do mundo? A vassoura que varre o chão de uma escola, a seringa que salva uma vida em um hospital, o parafuso que firma o eixo de uma ponte — todas essas ações se entrelaçam, invisivelmente, sustentando a ordem e a esperança da sociedade.
E é preciso que se diga: o trabalho dignifica, mas não define. Somos mais do que nossa profissão; somos o sopro que anima as tarefas, a intenção que transcende o expediente. Como disse o poeta Khalil Gibran, "O trabalho é o amor tornado visível". E que grandeza há em quem trabalha por amor — amor à vida, à família, à construção de um futuro que ainda não viu, mas em que acredita.
Neste Primeiro de Maio, é necessário recordar que a celebração não é apenas por conquistas passadas, mas por uma renovação de propósito. Em cada canto do país — nos campos dourados de café, nos confins de fábricas ecoantes, nos corredores de hospitais iluminados pela vigília — ecoa o mesmo desejo: ser reconhecido, ser respeitado, ser parte de algo maior.
E, no entanto, para além dos discursos protocolares e das folgas rotineiras, é fundamental reconhecer o que pulsa de mais vivo neste dia: a memória da coragem. Foi coragem que moveu os primeiros trabalhadores; é coragem que move cada um de nós, todos os dias, a levantar, vestir-se e seguir.
Mas sejamos também provocativos, ainda que com ternura: a coragem que ontem conquistou direitos não pode hoje adormecer sob o peso da rotina. O maior tributo que podemos prestar aos que marcharam, sonharam e caíram por nós é recusar a mediocridade — é buscar, a cada novo dia, um trabalho que seja não apenas fonte de sustento, mas também de transformação.
Seja qual for sua profissão — ainda que, por vezes, invisível aos olhos do mundo — lembre-se: sua obra é única porque carrega a marca da sua humanidade. Nenhum trabalho é pequeno quando feito com grandeza de alma.
Que o Primeiro de Maio seja também um convite: a trabalhar, sim, mas também a sonhar. A construir, sim, mas também a questionar. "O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos", disse Eleanor Roosevelt. E não há força de trabalho mais invencível do que aquela impulsionada por sonhos.
E que se ensine às novas gerações que o trabalho não é prisão, mas possibilidade; não é castigo, mas expressão da nossa capacidade de alterar o curso do mundo — ainda que seja o mundo de uma única pessoa. Uma palavra dita com gentileza, uma mercadoria entregue com honestidade, uma ideia partilhada com generosidade: tudo isso é trabalho, e tudo isso é construção.
Neste dia primeiro de maio, ergo minha voz para saudar todos os que semeiam, constroem, curam, educam, protegem, inovam e servem. Cada jornada sua é, em si, uma declaração de fé no futuro. A cada manhã em que não desistem, a cada esforço que fazem mesmo sem aplausos, vocês provam que a grandeza humana não reside nas circunstâncias, mas na disposição de dar o melhor de si, mesmo nos dias mais escuros.
"Todo trabalho que eleva a humanidade tem dignidade e importância", disse Martin Luther King Jr. Que essas palavras nos guiem. Que nossa luta diária seja banhada em honra. Que o suor, longe de nos envergonhar, nos coroe.
E que, ao voltarmos os olhos para a história deste dia, reconheçamos que somos herdeiros de um legado de força — e também de um chamado para fazer do nosso trabalho uma ponte entre o presente e o amanhã que sonhamos.
Feliz Primeiro de Maio.
Sigamos — firmes, humanos, incansáveis — transformando o mundo com a mais poderosa ferramenta que temos: o trabalho feito com dignidade, coragem e amor.
"Opera manuum nostrarum mundum sustinet."