Numa casa lotérica ( sei lá se corresponde bancário) na cidade de Uberlândia, enquanto aguardava atendimento, dialogava com pessoas próximas a mim. Estava bem acompanhado. Tinha de um lado uma simpatissíssima Senhora loira. Que logo se mostrou ser uma pessoa culta. Do outro, uma Senhora morena, elegante, via-se que sabia combinar bem as cores da bolsa, sapato e batom.
Minha conversa
começou com a loira. Conversa agradável, fluente, leve e respeitosa, depois de
lhe falar muito de Patrocínio, soube que ela nasceu em Ituiutaba, mas há muitos
anos mora em Uberlândia, onde estudou, casou, criou os filhos. É empresária,
mas não perguntei de qual seguimento…
A morena passou a
participar da nossa conversa. Era uma professora aposentada , nascida em
Uberlândia mesmo. De olho no painel da senha, a gente ia de um assunto a outro.
Revelou gostar de flores, já leu muitos livros, mas se rendeu às
multifuncionalidades do celular, que ela chamou de “ladrão de tempo”
Como se pode notar
a conversa ia muito bem. Civilizada, plena de gentilezas… Até eu cometer um
vacilo imperdoável. Por um momento, esqueci que vivemos tempos bicudos. Que do
nada política pode virar caso de polícia.
Vi como normal. Um
monitor de TV exibia, acho que algumas peças comerciais, quando apareceu na
cena um senhor barbudo. Fiz o que jamais deveria ter feito. Falei o que jamais
poderia ter dito: “ Olha, parece com o Lula” Pior é que realmente parecia. A
loira concordou.
O Senhora morena me
perguntou na fumaça.
- “ E o que você
acha do governo Lula?”
Pronto. Jogou uma
brasa viva na minha mão.
Mexeu com quem não
sabe mentir, mas aprendi a falar uma verdade cruel sem acidez:
“ Olha, é começo de
mandato, tem tudo para melhorar, mas não está começando bem. Muitos
ministérios, anda viajando muito e precisa governar e esquecer o adversário”
Não tive como ser
mais óbvio, evasivo e brando.
Só que, mesmo assim
ela recebeu como uma afrontosa ofensa. Perdeu a linha completamente e falou aos
brados pra galera ouvir:
“ EU VOTEI NO LULA!
E VOU VOTAR NELE SEMPRE. SE MIL VEZES ELE SE CANDIDATAR, MIL VEZES VOU VOLTAR
NELE” E tome, papagaiacão. “Negacionista”, “ facista” “ ladrão de jóias”
Pensei, onde fui
amarrar minha eguinha pocotó. Que minuto de bobeira foi aquele. Sem querer
comecei aquela treta bisonha. A polarização e o fanatismo político de E e D
deixou todo mundo ligado no 230. Que burro, dá zero pra mim. Não se sai falando
em política, mais assim, por aí.
Mas fazer o que, o
suposto ringue estava ali armado. O adversário já me chamava para o embate.
Montei um
estratégia instantânea. Lembrei de alguma coisa que li de Augusto Cury, sobre
controle de emoções. Respirei fundo. Sai da frequência enraivecida proposta por
ela.
“A resposta branda
desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.”
Estava ali a minha
oportunidade de provar se Salomão falou lorota ou se esta palavra tem mesmo
poder.
Falei com toda
serenidade e afeto. Foi mais ou menos assim:
“ Quem sou eu na
fila do pão diante da senhora uma catedrática de história. Mas é possível que a
gente jamais vá se ver nesta vida. Portanto, me permita fazer um pedido muito
especial. A senhora jura pra mim que vai considerar.? Pelo menos, me promete que
vai refletir sobre o assunto? EXISTE UM OUTRO LADO nesta história toda.
Montaram um esquema jurídico/político e midiático em torno da candidatura e
eleição do Lula, que ele, como bom candidato, não precisaria disto. Por conta
disto, tem muita gente inocente na cadeia com pena pesadíssima, muita gente
injustamente cassada, exilada; gente com conta bancária bloqueada, perfis em
redes sociais cancelados.
Foi uma vitória, totalmente
sem honra..
Não estou pedindo a
senhora que deixe de ser petista, esquerdista ou lulista, só estou pedindo a
senhora que não perca o universal senso de justiça e humanidade. Veja, a
versão, a situação e a realidade de quem está DO OUTRO LADO…
Ouça a voz
contrária. Passe a notar a mão de ferro sobre a gente.”
Nisto, apareceu o
seu número no painel, ela se levantou e foi ao respectivo guichê ser atendida.
Me distrai, perdi
ela de vista, já não pensava mais no ocorrido.
De repente, eis ela
na minha frente,
pedindo desculpas e
solicitando um abraço. Também lhe pedi desculpas.. Prometeu que iria pensar no
que lhe falei. Jamais, porém deixaria de ser petista...
Bom. Dizem que
Alexandre, rei da Macedônia, tinha o costume de colocar um algodão em um dos
ouvidos, sempre que alguém vinha lhe falar sobre outra pessoa. Seus súditos
ficavam intrigados com aquilo, até que um deles ousou perguntar-lhe por que ele
mantinha um dos ouvidos tapados, nessas ocasiões.
- É porque eu quero
reservar um ouvido para ouvir o acusado - respondeu o rei.
Esta teria de ser a
inarredável conduta de todos nós, sobretudo da imprensa brasileira.
EXISTE UM OUTRO
LADO
A imprensa
brasileira, hoje, com raríssimas exceções é vergonhosamente, manipuladora,
ideológica e vendida ao sistema reinante. Foi preciso um gringo forte e
independente, sair voluntariamente, a campo e mostrar ao mundo o que se passava
de fato debaixo do nosso tapete verde e amarelo. Somente agora, timidamente, a
velha mídia começa a falar aqui e ali sobre o tribunal político
/jurídico/inquisitorial, que, há muito massacra o lado de quem pensa, vê, age e
vota diferente.
Caminhamos a passos
largos para se implantar o “partidão único” no país. Logo nosso país detentor
da mais rica e plural diversidade em todos os sentidos.
“ Tá Milton, cadê a
coerência textual. Neste papo de ouvir o outro lado, o que este branquelo do
olho azedo está fazendo na sua crônica? “
É que, embora me
reconheça um animal aristotélico, não quero ficar falando desse nojo de
política, nem aqui, e jamais numa fila lotérica.
POR ISTO, quero
aproveitar a oportunidade para homenagear com o meu fiozinho de voz este
parlamentar Federal pelo Rio Grande do Sul: Marcel Van Hatten. Depois do leão
domado, pode parecer muita gente, maltratando o gatinho.
Faz tempo que com a
sua voz firme, coerente, democrática e corajosa, ele tem mostrado O TAL OUTRO
LADO, mas esta recente lapada época que deu, olhando no olho do Coronel
comandante do exército, foi coisa de estadista.
De minha parte,
prometo: Vou ver sempre O OUTRO LADO..
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