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Colunas
30/04/2024 - 10h30
O TAL OUTRO LADO
Confira a coluna do Milton Magalhães na última edição da Gazeta: 4.239

Numa casa lotérica ( sei lá se corresponde bancário) na cidade de Uberlândia, enquanto aguardava atendimento, dialogava com pessoas próximas a mim. Estava bem acompanhado. Tinha de um lado uma simpatissíssima Senhora loira. Que logo se mostrou ser uma pessoa culta. Do outro, uma Senhora morena, elegante, via-se que sabia combinar bem as cores da bolsa, sapato e batom.


Minha conversa começou com a loira. Conversa agradável, fluente, leve e respeitosa, depois de lhe falar muito de Patrocínio, soube que ela nasceu em Ituiutaba, mas há muitos anos mora em Uberlândia, onde estudou, casou, criou os filhos. É empresária, mas não perguntei de qual seguimento…

A morena passou a participar da nossa conversa. Era uma professora aposentada , nascida em Uberlândia mesmo. De olho no painel da senha, a gente ia de um assunto a outro. Revelou gostar de flores, já leu muitos livros, mas se rendeu às multifuncionalidades do celular, que ela chamou de “ladrão de tempo”

Como se pode notar a conversa ia muito bem. Civilizada, plena de gentilezas… Até eu cometer um vacilo imperdoável. Por um momento, esqueci que vivemos tempos bicudos. Que do nada política pode virar caso de polícia.

Vi como normal. Um monitor de TV exibia, acho que algumas peças comerciais, quando apareceu na cena um senhor barbudo. Fiz o que jamais deveria ter feito. Falei o que jamais poderia ter dito: “ Olha, parece com o Lula” Pior é que realmente parecia. A loira concordou.

O Senhora morena me perguntou na fumaça.

- “ E o que você acha do governo Lula?”

Pronto. Jogou uma brasa viva na minha mão.

Mexeu com quem não sabe mentir, mas aprendi a falar uma verdade cruel sem acidez:

“ Olha, é começo de mandato, tem tudo para melhorar, mas não está começando bem. Muitos ministérios, anda viajando muito e precisa governar e esquecer o adversário”

Não tive como ser mais óbvio, evasivo e brando.

Só que, mesmo assim ela recebeu como uma afrontosa ofensa. Perdeu a linha completamente e falou aos brados pra galera ouvir:

“ EU VOTEI NO LULA! E VOU VOTAR NELE SEMPRE. SE MIL VEZES ELE SE CANDIDATAR, MIL VEZES VOU VOLTAR NELE” E tome, papagaiacão. “Negacionista”, “ facista” “ ladrão de jóias”

Pensei, onde fui amarrar minha eguinha pocotó. Que minuto de bobeira foi aquele. Sem querer comecei aquela treta bisonha. A polarização e o fanatismo político de E e D deixou todo mundo ligado no 230. Que burro, dá zero pra mim. Não se sai falando em política, mais assim, por aí.

Mas fazer o que, o suposto ringue estava ali armado. O adversário já me chamava para o embate.

Montei um estratégia instantânea. Lembrei de alguma coisa que li de Augusto Cury, sobre controle de emoções. Respirei fundo. Sai da frequência enraivecida proposta por ela.

“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.”

Estava ali a minha oportunidade de provar se Salomão falou lorota ou se esta palavra tem mesmo poder.

Falei com toda serenidade e afeto. Foi mais ou menos assim:

“ Quem sou eu na fila do pão diante da senhora uma catedrática de história. Mas é possível que a gente jamais vá se ver nesta vida. Portanto, me permita fazer um pedido muito especial. A senhora jura pra mim que vai considerar.? Pelo menos, me promete que vai refletir sobre o assunto? EXISTE UM OUTRO LADO nesta história toda. Montaram um esquema jurídico/político e midiático em torno da candidatura e eleição do Lula, que ele, como bom candidato, não precisaria disto. Por conta disto, tem muita gente inocente na cadeia com pena pesadíssima, muita gente injustamente cassada, exilada; gente com conta bancária bloqueada, perfis em redes sociais cancelados.

Foi uma vitória, totalmente  sem honra..

Não estou pedindo a senhora que deixe de ser petista, esquerdista ou lulista, só estou pedindo a senhora que não perca o universal senso de justiça e humanidade. Veja, a versão, a situação e a realidade de quem está DO OUTRO LADO…

Ouça a voz contrária. Passe a notar a mão de ferro sobre a gente.”

Nisto, apareceu o seu número no painel, ela se levantou e foi ao respectivo guichê ser atendida.

Me distrai, perdi ela de vista, já não pensava mais no ocorrido.

De repente, eis ela na minha frente,

pedindo desculpas e solicitando um abraço. Também lhe pedi desculpas.. Prometeu que iria pensar no que lhe falei. Jamais, porém deixaria de ser petista...

Bom. Dizem que Alexandre, rei da Macedônia, tinha o costume de colocar um algodão em um dos ouvidos, sempre que alguém vinha lhe falar sobre outra pessoa. Seus súditos ficavam intrigados com aquilo, até que um deles ousou perguntar-lhe por que ele mantinha um dos ouvidos tapados, nessas ocasiões.

- É porque eu quero reservar um ouvido para ouvir o acusado - respondeu o rei.

Esta teria de ser a inarredável conduta de todos nós, sobretudo da imprensa brasileira.

EXISTE UM OUTRO LADO

A imprensa brasileira, hoje, com raríssimas exceções é vergonhosamente, manipuladora, ideológica e vendida ao sistema reinante. Foi preciso um gringo forte e independente, sair voluntariamente, a campo e mostrar ao mundo o que se passava de fato debaixo do nosso tapete verde e amarelo. Somente agora, timidamente, a velha mídia começa a falar aqui e ali sobre o tribunal político /jurídico/inquisitorial, que, há muito massacra o lado de quem pensa, vê, age e vota diferente.

Caminhamos a passos largos para se implantar o “partidão único” no país. Logo nosso país detentor da mais rica e plural diversidade em todos os sentidos.

“ Tá Milton, cadê a coerência textual. Neste papo de ouvir o outro lado, o que este branquelo do olho azedo está fazendo na sua crônica? “

É que, embora me reconheça um animal aristotélico, não quero ficar falando desse nojo de política, nem aqui, e jamais numa fila lotérica.

POR ISTO, quero aproveitar a oportunidade para homenagear com o meu fiozinho de voz este parlamentar Federal pelo Rio Grande do Sul: Marcel Van Hatten. Depois do leão domado, pode parecer muita gente, maltratando o gatinho.

Faz tempo que com a sua voz firme, coerente, democrática e corajosa, ele tem mostrado O TAL OUTRO LADO, mas esta recente lapada época que deu, olhando no olho do Coronel comandante do exército, foi coisa de estadista.

De minha parte, prometo: Vou ver sempre O OUTRO LADO..



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