A sala de espera estava cheia. O ar pesado de preocupações e sintomas pairava entre os que, como eu, aguardavam seu momento de serem vistos, ouvidos, cuidados. O relógio parecia avançar a passos lentos, e, por um instante, senti o desespero natural de quem enfrenta uma fila que se mede pela angústia e não pelo tempo. Mas, ao invés de me perder na impaciência, resolvi observar. Não apenas olhar, mas enxergar com os sentidos despertos.
Diz-se que "não há nada de novo sob o sol" (Eclesiastes 1:9), mas a verdade é que a forma como olhamos pode transformar o que vemos. E foi com essa disposição que comecei a notar a engrenagem funcionando: o chamado dos nomes no painel, as crianças recebendo atenção prioritária, os idosos acolhidos com o respeito que a idade lhes confere. Os profissionais transitavam entre salas e corredores, atentos, ágeis, humanos. Percebi então que há uma simetria oculta entre a dor e o cuidado, como se cada um dos que ali estavam fossem peças de um quebra-cabeça invisível, montado todos os dias na batalha silenciosa pela vida.
Eu, tomado pelos sintomas da Dengue, poderia ter me deixado levar pela febre e pelo desconforto, mas escolhi compreender. Escolhi ver além da dor e do cansaço, e, nesse ver, descobri um mundo de pequenas gentilezas. Quando fui chamado à triagem, os olhos que me receberam não eram mecânicos, mas atentos. Meu nome foi dito com voz de quem o pronuncia com respeito, e não como quem apenas lê uma ficha. "Como você está se sentindo?", perguntou a profissional. Não "o que você está sentindo?", mas "como". E nessa diferença reside toda a beleza da empatia.
Ser paciente é, paradoxalmente, um exercício de paciência. Mas quando se é tratado como alguém que importa e não como um número numa planilha, o tempo de espera ganha sentido. Quando enfim fui chamado ao consultório, já não me preocupava com a demora. A médica que me recebeu sorriu antes de iniciar qualquer explicação, e isso, por si só, já era um bálsamo. Conversamos. Não apenas sobre a doença, mas sobre a vida. Ela quis saber do meu trabalho, de minha família, do meu filho recém-nascido. Eu, por minha vez, soube um pouco dela. E esse encontro, que poderia ter sido uma formalidade fria, tornou-se um momento de humanidade compartilhada.
Lembrei-me, então, de um pensamento de Viktor Frankl: "Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Nessa resposta está nosso crescimento e nossa liberdade." Escolhi, naquele momento, valorizar a experiência. Escolhi me ver não como vítima do acaso, mas como parte de um sistema que, apesar de suas falhas, funciona pelo empenho de pessoas que fazem da sua rotina um ato de vocação.
Ao sair do consultório, reparei que a sala continuava cheia, mas os rostos já não eram os mesmos de quando cheguei. Cada um que se sentava carregava uma nova história, uma nova urgência, uma nova necessidade. Eu agora era parte dos que saíam, daqueles que foram acolhidos e podiam partir com um alívio no peito. E foi isso que me inspirou a escrever essa crônica.
Sim, há falhas. Sempre haverá. Nem tudo é perfeito, mas talvez perfeição não seja o que devamos buscar. Talvez, o que realmente importe seja a tentativa diária de fazer o melhor com as mãos que temos. Como disse Fernando Pessoa, "o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." E ali, no meio da travessia, descobri que ser atendido por um serviço público de saúde eficiente e humano é um privilégio que precisa ser reconhecido.
Saí dali mais consciente da minha responsabilidade com a própria saúde. Saí com a certeza de que fui bem cuidado e de que, por isso, devo me cuidar melhor. Porque o cuidado é um ciclo que se alimenta da atenção que damos a ele. E, acima de tudo, saí com gratidão: à equipe do Pronto Socorro Municipal, aos profissionais que ali trabalham, àqueles que, todos os dias, escolhem fazer diferença na vida dos outros.
Nossa cidade pulsa em cada um de nós, e seu funcionamento não é obra do acaso, mas do esforço coletivo. Como cidadão de Patrocínio, como alguém que precisou da estrutura que ajudamos a construir, posso dizer que vale a pena. Vale cada dia de trabalho, cada imposto pago, cada esforço investido. Porque não somos apenas usuários de um serviço, somos parte de uma comunidade que se cuida.
Então, a toda equipe do Pronto Socorro Municipal, meu muito obrigado. Assim como cada paciente que passa por essas portas todos os dias, vocês também não são apenas números. São pessoas. E, acima de tudo, são aqueles a quem confiamos nossas vidas e as de nossas famílias.
Que saibamos reconhecer isso, pois "ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar" (Esopo).
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